Era início do ano letivo, aquele frio na barriga de quem começa uma nova jornada.

Quem serão os meus alunos? Muita expectativa, alegria, sentimentos que se misturam.

E ela chegou.

Pequena, frágil, linda. Como uma menininha tão novinha, um ser inocente, podia despertar em mim tanto receio?

A coordenadora confimou o que o meu olhar já havia notado: “Essa é Helena, ela tem 3 anos. Tem Síndrome de Down, viu? Vai ser sua.”

Eu nunca havia trabalhado com uma criança “especial” antes… Uma mistura de medo e incerteza, uma sensação de fraqueza tomou conta de mim.

Como eu vou ensiná-la? Não fala? Precisa de quê? E as atividades? E as outras crianças?

Minha cabeça ficou girando naqueles pensamentos por dias. E eu me esforcei ao máximo para acolher Helena sem demonstrar o quanto eu estava – aqui posso dizer – apavorada.

Mas, não era com ela. Era com o medo de falhar, o medo de não conseguir fazer nada pelo seu desenvolvimento, de não conseguir ajudá-la a aprender.

Ao mesmo tempo em que me afeiçoava cada vez mais à minha Helena, e ela a mim e ao grupo, me sentia impotente como professora.

Sabia que, até certo ponto, estava dando conta da socialização. Mas, e os avanços? E os momentos em que não entendia o que ela queria, em que tentava fazê-la compreender uma tarefa e ela não correspondia?

Eu me sentia péssima, e foi assim por vários meses.

Até que encontrei alguém que começou a me mostrar o caminho.

Ter uma pessoa para me orientar, uma profissional mais experiente para me conduzir, foi fundamental. 

Alguém que falava com conhecimento de causa, com a segurança e credibilidade de quem vivia aquilo o que falava, e isso me passava tranquilidade e confiança nos seus ensinamentos.

Aos poucos, vi que a Síndrome de Down (ou Trissomia do 21) tinha suas especificidades, sim. Mas, fui entendendo como Helena aprendia, como se comunicava e, mais: fui aplicando as orientações na rotina da sala de aula, aprendendo a mediar, a utilizar os recursos certos da forma certa e… Aconteceu!

Helena começou a participar mais ativamente; a linguagem começou a evoluir, surgiram as primeiras palavrinhas compreensíveis; foi, aos poucos, demonstrando sua compreensão.

E eu? Ah, eu vibrava! Me sentia “A PROFESSORA”!  Agora sim, eu estava fazendo o meu papel, me sentia cada vez mais confiante, capaz, estava realmente emocionada com cada avanço da minha pequena aluna e feliz por fazer a diferença na vida dela.

E adivinha quem me ajudou a descobrir a professora que eu podia ser para a minha aluna com Síndrome de Down?